‘Come-recreio’ começou a ser escrito pelo estudante Joaquim Masson quando ele tinha apenas 9 anos de idade. Ao lado de sua mãe, Angélica Masson, a obra literária foi ganhando corpo e volume, até que a narrativa recebeu contornos de encanto com as ilustrações de Paula Mello. Finalizado agora, quando Joaquim, pessoa autista, completa 12 anos, o livro será publicado pelo selo Tagarela, da editora Polifonia. Tudo graças ao grande êxito dos autores — mãe e filho — em vencerem o edital da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
A imaginação e a criatividade literária de Joaquim Masson foram superiores a quaisquer limitações que o autismo poderia lhe impor. Assim, ao notar que as horas em que estamos felizes e mais descontraídos passam bem mais rápidas, comparadas às horas dedicadas a afazeres maçantes e tediosos, nasceu um personagem muito instigante: uma espécie de bicho-papão que se alimenta justamente daquele tempo em que mais gostamos de estar.
‘Come-recreio’, criatura que, de relógio de parede imponente, vira um monstro esfomeado por minutos, surge na literatura brasileira a partir da união dos dois escritores, já conectados pelos laços afetivos e sanguíneos. “Joaquim notou que o tempo parecia que era ‘roubado’. E não era pelo ‘bicho-papão’, mas por essa coisa abstrata e onipresente que todos nós adultos chamamos de pressa”, revelou Angélica Masson, mãe de Joaquim e também advogada e procuradora jurídica. Além de pressa, esta mesma coisa que ‘come’ o nosso tempo também pode ser chamada de produtividade, por outros. Toda a narrativa desta união quase perfeita, de mãe e filho autores, encontrou na artista plástica Paula Mello imagens brilhantes e artísticas que dão corpo a esta distopia.
“‘Come-recreio’ poderá ser interpretado como uma metáfora para o que estamos vivendo ultimamente, onde muitos notam e acham que os ponteiros avançam numa velocidade quase alucinante. Ao mesmo tempo, poderá acabar sendo um alerta que vem de onde nós menos esperamos”, concluiu Angélica Masson.