Maria Adelaide Amaral desabafa: “A Globo já não tinha mais espaço para mim”

Maria Adelaide Amaral. Foto: Reprodução/TV Tribuna

Aos 82 anos e com uma trajetória sólida na dramaturgia brasileira, Maria Adelaide Amaral está vivendo o que chama de “velhice produtiva”. Após mais de três décadas na Globo, a autora rompeu definitivamente com a emissora em 2022, encerrando um ciclo marcado por novelas e minisséries memoráveis. Hoje, dedica-se ao cinema, à literatura, ao teatro e à vida intelectual, livre da pressão de produzir para a televisão.

Em entrevista exclusiva ao portal NaTelinha, Maria Adelaide não esconde o alívio por ter deixado para trás a rotina exaustiva das novelas: “É um alívio, a essa altura do campeonato, não precisar mais escrever novela. Não tenho mais fôlego para isso, nem com 50 colaboradores. Porque, no fim, você é responsável pela escaleta e pela redação final. É um trabalho do cão, além de você responder por mil e uma coisas. Não quero mais isso. Ou melhor: não preciso mais disso.”

A autora, que começou na Globo como colaboradora em 1990 e assinou tramas como Anjo Mau (1997), Ti Ti Ti (2010) e A Lei do Amor (2016), reconhece que sua última novela foi um dos momentos mais difíceis da carreira. “Foi o maior fracasso da minha vida”, admite sobre a obra exibida no horário nobre. O desgaste emocional e os bastidores conturbados marcaram esse encerramento de ciclo, ao lado do escândalo envolvendo José Mayer, protagonista da trama, que foi acusado de assédio por uma figurinista e acabou afastado da emissora.

Apesar da saída, Maria Adelaide afirma não guardar mágoas. Ao contrário, celebra a liberdade criativa que conquistou fora da TV. Após deixar os Estúdios Globo, ela mergulhou em projetos autorais, como a adaptação para o cinema do livro Em Nome dos Pais, de Matheus Leitão, em parceria com o diretor Bruno Barreto. Atualmente, ela também prepara um novo longa e uma peça de teatro.

Outro foco da autora tem sido o relançamento de seus romances. Clássicos como Luísa, Aos Meus Amigos e O Bruxo estão sendo republicados pela Editora Instante. Ela também integra a Academia Paulista de Letras, dá palestras e se mantém intelectualmente ativa. “Sempre sonhei envelhecer criando, lendo e compartilhando conhecimento. E estou exatamente onde queria estar.”

A veterana relembra ainda que sua saída da Globo se concretizou após um projeto sobre o compositor Carlos Gomes ser engavetado. Inicialmente pensada como minissérie, a obra foi adaptada para o formato de novela, mas acabou descartada por questões orçamentárias, segundo a direção da emissora. “Foi o arremate final. O Silvio saiu e entrou o Ricardo Waddington [como diretor dos Estúdios Globo], que uma semana após ter assumido me ligou para dizer: ‘Olha, a gente não tem dinheiro para produzir nem a sua minissérie e muito menos a sua novela de época’. E assim terminou a minha história na Globo.”, relembra a dramaturga.

“Minisséries funcionam, são eficientes, mas têm outro espírito, não são mais históricas. Porque minissérie histórica dá muita despesa, muito trabalho, é um investimento muito grande na direção de arte, nos valores assinalados. Eles passaram a dar prioridade a outras coisas. Não preciso nem falar o que aconteceu depois, sob as sucessivas novas direções [na dramaturgia da Globo]. Não vou discutir, porque eles entendem disso muito melhor do que eu. Eles sabem onde aperta o sapato. O fato é que não havia mais lugar para mim na Globo.”, avalia.

Sobre o atual momento da teledramaturgia, Maria Adelaide faz críticas à perda de qualidade técnica na Globo após demissões de profissionais experientes. “Acho que o produto técnico da Globo decaiu muito em função dessas demissões. Essas pessoas fazem falta não só pelo que eram, mas pelo que ensinavam às novas gerações, aos aprendizes. O “padrão Globo de qualidade” mandou lembranças! Compara Vale Tudo de hoje com Vale Tudo de 1988… Você percebe a diferença na direção. As pessoas não têm a mesma competência. Na luz, na qualidade dos cenários, que são precários. Antes, você tinha grandes cenógrafos, diretores de arte e figurinistas trabalhando ali. Foi uma escolha muito ruim da Globo ter se livrado de tanta gente necessária.”, opina.

Maria Adelaide lembra com carinho das minisséries históricas que assinou para a Globo, como A Muralha, Os Maias e A Casa das Sete Mulheres, e lamenta a substituição do formato por séries curtas e menos ambiciosas. “Diziam que minissérie não dava retorno financeiro, o que me soa estranho. Minhas obras foram exibidas internacionalmente. Vi o sucesso em países como Cuba, onde o público se envolveu intensamente.”

Ela também reconhece que o sucesso na televisão depende de uma combinação de fatores: conteúdo, produção, elenco e, sobretudo, audiência. “Você pode criar uma obra primorosa, mas, se não atingir o público, a cobrança vem com força total.”

Mesmo após o retorno recente de nomes como Aguinaldo Silva e Lícia Manzo ao time de autores da Globo, ela não cogita voltar. “Fico feliz por eles, mas estou bem longe disso e agradeço por não ter mais esse tipo de responsabilidade. A televisão me deu muito, e eu retribuí com trabalho. Agora é hora de outras vivências.”

Com um currículo que transita entre o entretenimento e a reflexão crítica da sociedade brasileira, Maria Adelaide Amaral segue como uma das vozes mais respeitadas da dramaturgia nacional. E, longe das câmeras, continua afiada, criativa e com muito a dizer.

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