A Petrobras detalhou nesta quinta-feira (3) os investimentos que vão superar R$ 33 bilhões nas áreas de refino e petroquímica no estado do Rio de Janeiro. O valor faz parte do plano de negócios da companhia e deve ser executado até 2029. A expectativa é gerar 38 mil empregos diretos e indiretos.
As cifras incluem recursos da Braskem, a sexta maior indústria petroquímica do mundo, na qual a Petrobras tem expressiva participação acionária na companhia.
Segundo a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, o conjunto de investimentos é “grande, gigantesco” e engloba a integração entre a Rota 3 (escoamento de gás natural dos campos de pré-sal da Bacia de Santos, no litoral do Sudeste); o Complexo de Energias Boaventura, antigamente chamado de Comperj, em Itaboraí; a Refinaria Duque de Caxias (Reduc); e uma unidade da Braskem, também em Duque de Caxias. Esses três últimos ficam na região metropolitana do Rio.
“Estamos falando de um megaprojeto para o estado do Rio de Janeiro para além da exploração [de petróleo] e produção tradicionais”, disse. “O que estamos vendo é um esforço muito grande para tudo dar certo, para agregar valor, agregar emprego e renda para a sociedade”, completou Magda Chambriard.
A presidente da estatal disse que o projeto envolve um desenvolvimento industrial muito relacionado com as áreas de Duque de Caxias, Itaboraí e arredores e que há uma grande cadeia de empresas que serão beneficiadas em outras regiões.
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O detalhamento dos investimentos para os jornalistas aconteceu na sede da estatal, no Rio de Janeiro. Magda Chambriard participou, via teleconferência, por estar Portugal. Ela retorna nesta sexta-feira (4), quando acompanhará a visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará à Reduc, para conhecer os investimentos.
Os R$ 33 bilhões são uma atualização do plano anunciado em setembro de 2024, que previa R$ 20 bilhões. “O projeto cresceu”, afirmou a presidente da estatal.
Reduc
A integração entre a Reduc e o Complexo Boaventura responderá por R$ 26 bilhões do conjunto de investimento, com a geração de 30 mil empregos diretos e indiretos.
Na Reduc, haverá ampliação da produção do Diesel S10 (com teor reduzido de enxofre) em 76 mil barris por dia (bpd); acréscimo de 20 mil bpd na produção de querosene de aviação e 12 mil bpd de lubrificantes – que passarão a ser processados a partir de petróleo do pré-sal, diminuindo a necessidade de importação de petróleo árabe.
A integração entre as duas instalações possibilitará também produção de combustível sustentável de aviação (SAF) e o rerefino, que consiste no processamento de lubrificante usado.
A Reduc passará por uma parada programada de manutenção, que custará R$ 2,4 bilhões até 2029. Esse dinheiro não está incluído no total de investimentos (capex, no jargão do mundo dos negócios), e sim no montante destinado à operação (opex). Dezoito mil pessoas devem ser empregadas no processo ainda neste ano.
Haverá também testes para coprocessamento, o que inclui o diesel R7, feito com 7% de conteúdo renovável, já a partir deste mês. O diretor executivo de Processos Industriais e Produtos da Petrobras, William França, explicou que esse combustível menos poluente já é autorizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“Já podemos hoje comercializar”, afirmou França, que adiantou que a Petrobras iniciará, também em julho, testes com 10% de conteúdo renovável, para formar o diesel R10.
Menos importação
O pacote de investimentos inclui estudos para a produção de ácido acético e monoetileno glicol no Complexo Boaventura. Esses dois produtos químicos são usados na produção de tintas e plástico PET (polietileno tereftalato).
O projeto visa reduzir a necessidade de importar esses elementos, uma vez que, atualmente, o Brasil precisa importar todo o ácido acético usado no país.
Braskem
O pacote de investimentos anunciado inclui a unidade da Braskem em Duque de Caxias, cuja integração permitirá ampliar em 230 mil toneladas por ano de polietileno (material plástico). Devem ser criados 7,5 mil empregos diretos e indiretos.
Apesar de a Petrobras deter 47% das ações com poder de voto da Braskem – uma companhia privada controlada pela Novonor (antiga Odebrecht) – os R$ 4,3 bilhões em investimentos previstos para essa obra sairão dos cofres da Braskem, seja do caixa ou até por meio de contratação de dívida.
Parte do investimento ainda precisa passar pela governança da Braskem. De acordo com o diretor presidente da companhia, Roberto Ramos, o projeto deve estar concluído em 2028. “Espero que no primeiro semestre”, disse aos jornalistas.
Ainda segundo Ramos, a integração permitirá à empresa importar menos matéria-prima dos Estados Unidos em troca do gás natural brasileiro.
Termelétricas
O pacote de investimentos até 2029 inclui três usinas termelétricas, cada uma com capacidade de 400 megawatts (MW), das quais, duas ficarão no Complexo Boaventura. Tais unidades terão ligação com a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), que já existe no complexo, e são preparadas para participar de leilão de energia demandada pelo governo.
A energia das termelétricas é complementar à produção total de energia elétrica no país.
Na Reduc, uma das duas termelétricas que existem será renovada e terá capacidade de 50 MW. A renovação da estrutura, que data da década de 60, consumirá R$ 860 milhões em investimentos e deve gerar 640 postos de trabalho diretos e indiretos.
“A Reduc é uma refinaria intensiva em consumo energético”, disse William França.
Capital do petróleo
Segundo Magda Chambriard, o anúncio de investimentos mostra que a empresa está de “mãos dadas” com o Rio de Janeiro. “Capital do petróleo no Brasil”, disse.
De acordo com William França, além dos 38 mil empregos relacionados aos investimentos, há 70 mil ligados às atividades de manutenção da Reduc e Boaventura. “São mais de 100 mil empregos para o estado do Rio de Janeiro, é muita coisa”, afirmou. Ele acrescentou que todos os projetos anunciados estão “caminhando muito bem”, em termos de licença de operação e sem judicialização.